terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Falta pouco mais de um dia, ih,ih, ih…

 

Olá minha gente!

Desculpem, desculpem e desculpem outra vez. Sim têm toda a razão em ficar irritados comigo, mea culpa, tenho estado muito ausente do blog, e isso não tem desculpa, contudo, tem uma justificação, ainda que aliada a uma boa dose de preguiça e de ausência de novidades de monta.

Passando à justificação: O Mestrado, sim a culpa é dele, esse papão que passa a vida a sugar o tempo que eu queria dedicar a todos vós e a FOX life… Tenho tido imenso trabalho, sobretudo por não ter todo o material necessário, pois está fora de questão comprar uns cem livros por cadeira e trazê-los para a Argélia. Assim não há orçamento que aguente, e esta escassez que me obriga a passar horas a fio na internet à procura de informação; a ler milhares de páginas que afinal, não interessam para nada; escrever textos, apagar textos; fazer e refazer, vezes sem conta o mesmo trabalho…em suma, isto tem sido uma animação cansativa, mas antes isso que morrer de tédio, que nem novelo magrebino voltado para si próprio.

Continuo a dar as minhas aulinhas, das quais tenho o maior orgulho, os frutos têm chegado e fazem-me sentir muito orgulhosa em partilhar a língua mãe e alguns dos hábitos, que me fazem suspirar de saudades. Sobretudo, quando chego ao capitulo da gastronomia.

No entanto, como eu sou uma sortuda, há pouco tempo, fui convidada para um cozido à Portuguesa, daqueles com tudo a que tem direito, e pasmem-se que até couves comi, sim eu que em minha casa, sempre disse que não gostava de couves, ( Desculpa mãe, mas de agora em diante vou comer sempre as couves todas, que me puseres no prato, prometo).

Hoje, contaram-me uma história que me pareceu divertidíssima, embora não creia que os intervenientes partilhem desta minha emoção, faço a ressalva que os meus sempre me disseram que não nos devemos rir do mal dos outros, por isso, vou contar o episódio sem esboçar um único sorriso, ou pelo menos tentar.

Segundo rezam os alcoviteiros, há aí um casal de argelinos cujo marido trabalhava toda a noite, motivo que o obrigava a deixar o aconchego do lar bem como a sua esposa, ora, como esta tinha medo de ficar sozinha, recebia todas as noites a companhia fiel da sua prima. Até aqui, nada de problemático não fosse a tal prima, uma moça muito recatada que usava gilbeb, que para quem não sabe, são umas vestes todas negras, algumas nem deixam ver os olhos, com meias e luvas pretas, ou seja, nada a descoberto.

Ao que parece, o senhor já se havia queixado dos silêncios do vulto negro, mas como algumas mulheres que usam o gilbeb, não falam com os homens, o senhor não levou a peito a indelicadeza da boa da prima, que tão amiga era da sua esposa, ao ponto de lhe vir fazer companhia. Se é certo que o dito senhor compreendia isto como um gesto de dedicação, dos seus vizinhos, gente desconfiada e no mínimo intrometidos, já não podemos dizer o mesmo.

Assim, começaram a encher os ouvidos do bom homem, que se viu forçado a simular que ia trabalhar para provar à solidariedade máscula, a dignidade da digníssima esposa. Um dia, deixou a mulher e a prima em casa, para ir trabalhar, mas algum tempo depois voltou, e percebeu que quem estava com a mulher não era uma prima e muito menos usava gilbeb… As mesmas fontes revelaram que o homem virou as costas e disse que não ia sujar as mãos, pouco tempo depois a senhora foi alegadamente mandada para casa da família dela, as fontes nunca mais a viram…The end

O estranho disto tudo, é que quando eu via estas “mulheres” na rua ficava incomodada, por assistir calada a tal submissão e fundamentalismo, mas desde que ouvi esta história, nunca mais vou pensar assim, agrada-me mais pensar que lá dentro, do gilbeb, está um homem feliz e satisfeito, que acabou de dar umas facadinhas, na mulher de alguém. Sim, este é só mais um dos muitos estratagemas que uso para me manter positiva, em relação à raça humana.

Agora que leram tudo isto, sem sorrir e com muito respeito, podem soltar berros de alegria por mim, pois Quinta-feira estarei em Portugal, depois de três longos meses de exílio, e não caibo em mim de satisfação e adrenalina. Vejam bem, que o maridão tem a mala feita com as passagens em cima, ao lado da porta, desde Sábado, é o desespero meus bons amigos, é o desespero.

Todo o resto continua igual, sem grandes atribulações, com jogos de tabuleiro alguns jantares, serões e muitas saudades…

Por agora é tudo, resta-me deixar aqui os meus votos de um Santo e feliz Natal e um fantástico Ano Novo para todos, com muito amor, carinho, miminhos, caridade e solidariedade com os vossos e com todos os outros que precisarem, nesta época e durante todo o ano.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Comida? Autorizada!


Olá a todos!
Finalmente e após 27 dias de dieta forçada, a comida volta à minha vida, como o filho pródigo regressa a casa, com alguma timidez e pouco à vontade, mas devidamente autorizada.
Hoje foi dia de consulta, a médica disse que estava tudo bem e que só tenho de voltar lá, depois da quadra festiva que se avizinha.
Desculpem a ausência, mas não tenho grande coisa para contar. Por aqui só cheira a Natal quando vejo os anúncios da Popota, o que me deixa nostálgica,  pois graças ao mais que tudo, nos últimos anos o Natal começava a 1 de Novembro, data em que se fazia a árvore, se enfeitava a casa e soavam as músicas de Natal, que tantas vezes me puseram os nervos em franja. Aqui não há Pinheirinho, nem luzes, nem Pai Natal mas pelo que tenho visto, das notícias da Pátria, este meu sentimento deve estar a ser partilhado por muitos residentes do país à beira mar plantado.
Crises nostálgicas e reais, à parte, o motivo porque não há grande animação, por aqui, é simples: Estamos aqui…Para compor a festa, tem estado um tempo de porcaria, com imensa chuva, que me fez ficar durante 4 horas sem luz, uma noite destas. E por falar em chuva, também tem havido muitas inundações cá por casa, mas são de papel, com tanta coisa que me forçam a ler para as cadeiras do Mestrado.
Há dois dias, o nosso mundo tremeu, tivemos um sismo que fez o impossível:  Acordou o maridão!
Também não tenho ido ao ténis, não por preguiça, mas porque quem não come, não tem energia para gastar, tenho dito! Agora para compor o quadro, só espero que no Natal ninguém me venha dizer, que quem não come, não tem prendinhas!
Assim, o nosso divertimento tem passado, pela internet, televisão, Playstation; livros, muitas fotocópias, e  alguns jantares com os Tugas, se bem que para um deles, tive de levar a minha companheira Cerelac, mas enfim, valeu pela companhia.
Durante a convalescença também descobri, pela fonte do costume, mais alguns aspectos curiosos da cultura deste país, mas como não me lembro de todos ficam os dignos de registo:
Ao que parece, no dia daquele casamento, que a minha fonte queria que eu fosse, mas ao qual não fui, houve um jovem que viu a filha dela (da senhora da limpeza), uma piquena de 17 anos que está a acabar o secundário, e como nestas coisas não há tempo a perder, passado uns dias, foi juntamente com a mãe dele, lá a casa, pedir a miúda em casamento.
Segundo relatos da mãe da dona da mão, o pedido foi negado, não porque a miúda é que tem de escolher, não porque não conhece, nem nunca falou com o rapaz, mas sim, porque tem de acabar os estudos e a mãe prefere que ela case com um Turco, mas atenção, esta é apenas uma referencia nacional,isto  porque, segundo ela (mãe), os turcos são boas pessoas e tratam bem as mulheres, mas ainda não escolheram o bendito turco para o casório. Assim, deixo o meu apelo a todos os turcos interessados, façam filas, que a malta quer casórios.
Ainda sobre o casório, que elegantemente declinei o convite, soube uma cusquice, que não posso deixar de partilhar.
Ora, dizem as más línguas, que passado um mês de ter casado, o noivo foi fazer a peregrinação a Meca,  pelo que a agora, sua esposa ( uma jovem bastante ocidentalizada, que nunca usou lenço), tem de se vestir adequadamente, que em linguagem corrente significa, andar de hijab, ( e para nós infiéis, significa andar enrolado num lençol), caso contrário, e na melhor das hipóteses, haverá falatório, no bairro.
Neste momento, só me ocorre um pensamento: É tão bom casar com homens, que nos amam ao ponto de irem, por nós, a Meca e tudo, para que nunca tenhamos cancro de pele …
Até breve a todos desta vez, com muitas saudades…

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

As imagens, que se seguem, podem ser consideradas chocantes.


2011-11-14 11.42.27  A arma do Crime.
Olá a todos,
Se viram estas imagens, e mesmo assim continuam com coragem para continuar, a ler sem náuseas, muitos parabéns, pois são dotados de um estômago forte e saudável.
Hoje, fui à consulta e há novidades. Não sei desde quando, mas agora tenho tratamento VIP na clinica, que ultimamente, sou forçada a frequentar. Resta, apenas, saber, se isto se deve à peculiaridade da meu casa, ou ao simples facto, de me considerarem uma paciente algo psicótica e por isso, não me deixam, na mesma sala, dos restantes utentes, não vá eu decidir fazer deles espetadas.
A verdade é que chegamos à recepção de Gastroenterologia, sem consulta marcada, pois aqui funciona por ordem de chegada,  e encontramos uma sala a rebentar pelas costuras. No entanto, a recepcionista, muito atenciosa (ou aterrorizada, pela minha presença),  pediu-me para aguardar na sala da médica, pois, estava estava numa cirurgia de urgência, deu-me logo, o relatório ilustrado do meu exame, e deixou-nos ali, bem confortáveis e longe do caos, da sala de espera. Gostei tanto, até porque nunca, em Portugal, me trataram assim, mas também, foi o único lugar onde engoli um palito.
Passando, assim, ao que importa, após algum tempo de espera lá chegou a médica, que claro está, lembrava-se de todos os detalhes, desta caso sórdido,  examinou-me e disse, que estava tudo bem comigo, que tinha reagido muito bem, mas que os cuidados deveriam manter-se, pois a situação foi complicada, e que até ela temeu o pior. Deixou ainda escapar, que em situações destas o paciente, deve ficar internado, mas que confiou em mim, e eu não a desapontei, ou seja, mostrei uma grande maturidade, para alguém, que engole palitos.
Por isso, meus caros leitores amigos e amigo leitores, já posso comer filetes de peixe, carne picada, frango, purés, e beber café, desde que não seja de máquina. Claro que para um comum mortal, isto não são grandes progressos, mas para mim, foi O Momento, do dia.
Agora, tenho outra consulta daqui a 10 dias, e desta vez, vou ser atendida num dia, em que a Sr.ª Dr.ª não dá consultas, só me vai ver a mim (quando a esmola é demais, o pobre desconfia). Espero, que nessa altura, já possa comer como as pessoas, hihihi.
Tenho novos medicamentos, e estes sabem a pasta de dentes, mas já tomei piores, sim, sobretudo, nestes últimos tempos, os medicamentos têm sido amigos e companheiros inseparáveis, com enormes doses de amizade, entre nós, e muito sono à mistura.
Posso dizer-vos, também, que me sinto, ótima e sem dores, nem náuseas, nem azias, ou coisas que se lhes pareçam, por isso não fiquem preocupados, que está tudo no bom caminho.
A única coisa, que verdadeiramente, me está a dar ansias, é que tenho centenas, quase a roçar o milhar de páginas para ler do mestrado, trabalhos em atraso, participações em aula, suspensas, e não sei para que lado me devo virar. Além disto, ainda tenho os meus 3 novos alunos que estão aflitos por começar e eu aflitinha para que eles pudessem esperar. Enfim, c’est lá vie, e ainda bem, é sinal que habemus vida. 
Para já é tudo, despeço-me com a certeza de que agora já me conhecem, pelo menos por dentro.
Até já,

sábado, 12 de novembro de 2011

Algumas Fotos…

 

 

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Um dos prédios típicos de Argel; Os cortinados também são um ícone aqui da cidade.

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Desconhecidas Argelinas.

 

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Mais um dos prédios, que para serem bonitos bastava-lhes um pintura e lavar as cortinas.

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Um dos autocarros aqui do bairro.

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Marginal…

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Umas das imensas casas, que aparentemente, estão em construção, mas afinal já são mais do que habitadas.

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Um bom exemplo, de como por aqui, se utilizam parabólicas, para revestir fachadas.

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Senhora de Argel.

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Mesquita.

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Praia de Palm Beach.

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Rapaz das maçarocas assadas.

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Senhor a rezar, no campo de ténis.

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Candeeiro do restaurante, o Dono ficou um bocadinho chateado, mas valeu a pena…

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Jardin D’Essai

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Vista para o monumento dos Mártires.

 

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A árvore onde foi gravado o primeiro Tarzan, pois…afinal não foi na selva.

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Lado Francês do Jardim.

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Liana grande e gorda.

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Dia de mercado, no centro.

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Mais mercado.

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Mais um, dos muitos, belos prédios, que já agradeciam que lhe lavassem a cara.

 

Espero que tenham gostado desta pequena viagem.

Obrigada a todos os que se preocuparam e preocupam, com o meu estado de saúde. Já me sinto bem melhor, mas estas doses cavalares de medicamentos, dão cá um sono… e pelo menos até segunda. Viva as papinhas de bebé!

Até breve

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

E não é que eu não estava louca?!


Olá a todos,
Esta foi uma semana, que de forma gentil, posso denominar de antagónica. Depois de rir e fazer rir com o último post, chegou a minha vez de chorar e gritar, com dores.
Tudo aconteceu, terça-feira depois do jantar. Já há uns dias, que eu não andava muito católica, não sentia fome e tinha uma dor chata no estômago. Mas na terça, algo mudou, cá dentro, que me causou dores tão intensas, que não davam mesmo para controlar. Eu encolhia-me, torcia-me, tomava medicamentos e nada. Parecia que tinha um punhal cravado, nas entranhas, mesmo impossível, até de descrever.
Pensamos se devíamos ir para as urgências, mas  já estava tão farta de contar a história, e ouvir, em jeito de remate: “isso é da sua cabeça; foi do susto; não se vê qualquer lesão, nos exames; o palito já saiu e blá, blá blá, WhisKas saquetas”, que preferi esperar.
Então, decidimos que eu sofreria durante uma noite, a titulo de expiação, por todos os males que fiz, nesta ou noutra qualquer encarnação. Sim meus amigos, isto não é drama, tive tantas dores, que me sinto completamente expiada, acho que se tivesse morrido, depois daquela noite, entraria direitinha pela zona V.I.P do paraíso,  sem passar no purgatório.
Assim, na Quarta-feira, lá fomos nós ver a gastroenterologista.
Senhora simpática, mas desconfiada, pois quando lhe contei a história do palito, não acreditou em mim. Deve ter pensado que lhe estava a dar tanga. Então, escrevia no relatório: “ paciente engole, hipoteticamente, um palito”, e eu dizia: “desculpe não é hipoteticamente, é de certeza absoluta”. Ela só respondia sim, sim, mas nada de apagar o advérbio. Enfim, lá me esteve a ver e mal me tocou, num determinado lugar do estômago, as minhas lágrimas teimaram em saltar, o que a fez perceber, que ou eu era muito sensível, ou a coisa não estava fácil, de todo modo, o prognostico inicial, era uma úlcera no estômago.
Assim, agendou-me, para o dia seguinte, uma fibroscopia, exame que eu desconhecia,  e por isso, convenci-me que iria fazer uma endoscopia.
Mandou-me para casa, sem analgésicos e com uma única recomendação, a de não comer nada. Ora, mais uma vez, cá vim eu e as minhas dores.
Depois de mais uma noite, nada simpática, onde esgotei os pedidos às divindades que conheço, e que o Google conhece, lá fui eu, pontualmente, fazer o que eu julgava ser a endoscopia.
Chegada ao local de preparação, tirei as minhas roupas e vesti uma bata amarela com quadradinhos, touca, meias de hospital, e lá entrei para o bloco. Foi aqui que comecei a sentir alguns arrepios, o lugar parecia uma sala de morgue, ninguém me falava, só me apontavam os lugares, para onde deveria ir, até que lá me deitaram na marquesa, com cateteres nos dois braços; a ver passar um recipiente, do que parecia ser vómito`; uma senhora a limpar um objecto para me colocar, na boca, (sim a limpar, não foi a tirar da embalagem), até que por fim, alguém  diz, em árabe, algo que não percebi, ao  que a médica responde: “Não vale a pena, ela é portuguesa”, e o anestesista comenta: ”Ah Portuguesa, Amália Rodrigues…” com isto, apaguei… ( deve ter sido da surpresa por me falarem, de alguém português, que não seja o Cristiano Ronaldo ou a Linda de Suza).
Quando acordei, muito nauseada, estava no recobro, com umas 20 cabeças a olhar para mim, entre médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, havia de tudo, então,  a médica pergunta:
-“Sente-se bem? É que engoliu, mesmo, um palito”.
E eu pensei, que grande novidade, ando a dizer isso, há 12 dias…
Nisto, mostra-me um frasquinho com o dois pedaços de palito lá dentro, e diz-me: “ Inteiro e intacto, tive de parti-lo, pois estava espetado e entalado, na saída do estômago para o intestino, pensei em chamar um cirurgião, mas fui tentando, até o partir. Assim não vai ficar com cicatrizes de operação, mas causei algumas lesões ao seu estômago”. E como se revelações não fossem, fortes o suficiente, ainda vai buscar fotos das lesões . Rapidamente, passei da náusea ao vómito.
Depois disto, foi o desfile, de perguntas, curiosidade, e risinhos, senti-me o Alien do Palito no Frasco, enquanto aquela malta, se divertia eu tremia de frio, náusea, e a dor de cabeça, de quem não comia, havia mais de dois dias.
Mas pronto, voltei logo para casa, com um batalhão de medicamentos para tomar, até segunda-feira, data da próxima consulta, não posso comer nada sólido e só devo beber água ou leite. Por isso, neste momento, ando de papo cheio de Cerelac.
Na segunda, vou fazer mais exames e ver como estão as feridas, e de certeza vão estar quase curadas.
Confesso que ontem me sentia, como se tivesse sido atropelada, por um camião cisterna, com a cisterna cheia, claro, mas hoje, depois de tomar os medicamentos, e de ter dormido, toda a noite, já me sinto bem melhor. Ai, como é bom, viver sem dor.
Neste momento, tenho à minha frente a causa de todo o mal, o Palito Maldito, que sobreviveu 12 dias dentro de mim, sem sequer perder, as pontas ou ficar mole, pondo por terra, todas as teses, de que os sucos gástricos são muito potentes, ou que nenhum corpo estranho, fica no nosso sistema digestivo, por mais de 30 horas, (ouvi isto de todos os argelinos que consultei).
Quando escrevi o último post, nunca pensei vir a passar pelo que passei, mas uma coisa não mudou, Argel aqui me tem, com o palito, mas desta vez, está dentro do frasco.
Até breve.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O que não me acontece, não acontece a mais ninguém. Tenho dito!


Olá Amiguinhos,
Estou em divida com todos vós, isto porque ainda não vim contar-vos o que se passou ontem e hoje, aqui na Argélia. Mais à frente, explicar-vos-ei os motivos da falta de noticias, mas para já, vou dar-vos a conhecer os rituais desta festa, denominada de Aid ul-Adha.
Assim, o Aïd ul-Adha,  ou Aïd du mouton ( é assim que lhe chamamos cá em casa), é o dia  celebrado, pelos muçulmanos, de todo o planeta, em memória da disposição do profeta Abrãao, em sacrificar o seu filho Ismail, conforme a vontade de Deus.
No primeiro dia, homens, mulheres e crianças vestem as melhores roupas, e realizam a salat (a oração) numa grande congregação.
Todos os muçulmanos, que possuem meios económicos, devem sacrificar carneiros como forma de lembrar o acontecimento. É condição obrigatória que o animal seja macho,( deve ser a única altura em que as fêmeas têm sorte, neste país), adulto e saudável. A carne que resulta destes sacrifícios é distribuída por familiares, vizinhos e pobres, ( dizem as más línguas, que aos pobres, só tocam as entranhas dos bichos, o que para mim era um festim, pois adoro uns belos pulmões fritos).
Indo ao que importa, nestes últimos dias, Argel ficou convertida, num gigante rebanho, não havia, rua, esquina, ou automóvel, que não tivesse um ou vários carneiros. Confesso que sempre achei os carneiros e bodes, animais enfadonhos e de ar taciturno, mas como sabia que iam ser todos degolados, a verdade é que fiquei com bastante pena dos bichinhos.
E sim, ontem foi mesmo The big Day, todas estas pobres criaturas foram degoladas em homenagem a Abraão, hoje, não se vê nem um para contar a história, e apesar de haver vários requisitos de aniquilação dos ruminantes, no que toca ao lugar da morte, não há cá modernices, qualquer lugar serve, desde o jardim do condomínio; as soleiras das portas; as próprias ruas, o que importa é consumar o ato, e deixar o sangue correr, nem que fique espalhado desde a entrada do prédio até ao elevador, como aconteceu, aqui em casa Enfim, sejam feitas as suas vontades, que a malta aguenta. Tudo para os ver felizes!
Depois deste momento de serviço público, vou finalmente contar-vos o que aconteceu, nesta ultima semana. ATENÇÃO! Os conteúdos que vão ser expostos, podem ter descrições consideradas chocantes, para os mais sensíveis, assim, muito agradeço que retirem as crianças das proximidades deste post e que não contem isto, na presença das mesmas.
Tudo remonta, às duas da manhã de Segunda-feira transacta, uma jovem imigrante portuguesa, sente uma enorme sede e por isso dirige-se ao frigorífico, pega numa garrafa de 7up, que por se encontrar no fim, a jovem decide extermina-lá de um só trago.
(Aparte)
(Dias antes, um colega do marido da emigrante, informou-os que se colocassem um palito de dentes, dentro das garrafas de bebidas gaseificadas, o dito objecto fazia com que o gás se conservasse por mais tempo. E o marido emigrante, movido por uma enorme curiosidade empírica, como é óbvio, foi testar a teoria, e introduziu, o objecto duro e pontiagudo na garrafa).
Retomando a narrativa, logo que a jovem engoliu o refrigerante, sentiu, imediatamente o objecto de pontas, entalado na garganta, ora revendo toda a sua vida em retrospectiva, cedo chegou ao momento exato, em que o palito fora colocado na garrafa, e foi aí que pensou: “Já foste!”.
Após uma grande ginástica, para engolir ou vomitar o objecto, o cenário foi o pior: o objecto entrou no aparelho digestivo.
Como o marido dormia, a única hipótese ,da portadora do objecto já identificado, foi mesmo, consultar o Dr. Google, ( sim, eu sei que foi uma péssima ideias). E o que encontrou? “As mortes mais estranhas do mundo, jovem morre por engolir um palito”; e outros comentários como: “deverá fazer uma colonoscopia.”; “tem de defecar para um recipiente e fazer análises às fezes.” ou ainda “ esperemos que não saía na horizontal”.
Já estão a imaginar o cenário negro? Mas após o choque, chegaram as dores, as idas à clínica, os sorrisos e perguntas incrédulas, daqueles a quem a história foi narrada, os raio-x; as ecografias, os medicamentos e coisa nenhuma, a madeira não é detectável, neste tipo de exames.
Assim, Argel aqui me tem com um palito, que já não deve estar cá dentro, com um resquício de dores, que já foi pior, e uma história, que só quem tem a maior lata do mundo, tem a coragem de vir para aqui contar.
E é esta mais uma das histórias da minha vida. Eu com tanto medo de bombas, quando em bom rigor, quase me deixei estourar com um palito de dentes.
Até breve.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Testamento.


Muito boa tarde a todos,
Cá estou eu, mais uma vez, para vos relatar estes meus últimos dias, que foram, certamente, os menos monótonos, da minha estadia por estas bandas.
Nestes últimos onze tive a companhia da uma prima, que num rasgo de loucura, decidiu vir fazer o turismo,possível, na Argélia.
A verdade é que a coisa não correu muito mal, pensei que iria ser pior.  Viver nesta cidade, sem carro e sem conduzir, não é tarefa, nada fácil. Mas deu para lhe mostrar alguns dos locais, de maior interesse de Argel, assim como, os hábitos e rotinas desta vida mediterrânica/portuguesa.
A Argélia tem várias belezas para visitar, desde praias, ruinas, vales, vilas muito típicas, e desertos, há uma grande diversidade de espaços e gentes, espalhadas pela vasta área do pais, no entanto, Argel não é, propriamente, a cidade mais rica e dinâmica do mundo, mas nós demos a volta à situação e conseguimos ocupar, com algumas peripécias, os nossos longos dias.
Demos várias voltas por Argel, fomos ao Monumento dos Mártires, às praias de Palm Beach, à Catedral de Nôtre Damme D’afrique; passamos na fantástica marginal e baia argelina, que bastava uma pintura, para ser um lugar belíssima. Fomos ainda, ao centro comercial, às ruas das compras, onde conseguimos um desconto de 600 dinares nuns ténis all star, que custavam 1500 dinares. Também na loja de souvenirs, tivemos direito a ofertas, deram-nos dois porta-chaves, típicos, aqui da terrinha. Vimos também o mercado de Sexta-feira de manhã, com as lojas cheias de roupas e de gentes, e esta foi a experiência mais argelina, dos dez dias de estadia. Visitamos também, ao jardim onde foi gravado o primeiro Tarzan, lugar que aprecio, especialmente, ainda por cima, porque a visita, foi de borla, graças à simpatia dos senhores porteiros, que decidiram fazer uma gentileza, aqui às meninas.
Na Sábado passado, tentamos ir às ruínas de Tipaza, que muita gente nos tem elogiado, mas que ainda não tive oportunidade de ver. Infelizmente chovia imenso e não conseguimos sair do carro, de todo modo, fiquei bem impressionada com aquela banda, e logo que tenha uma oportunidade, vou lá e trago fotos, para vos mostrar.
Durante as noites, fomos, aos restaurantes mais frequentados, pelos estrangeiros, e fomos duas vezes à discoteca Pachá, que ganha o galardão da experiência do mês.
Estávamos nós quatro, a tentar entrar na discoteca, quando um dos seguranças, me pede a identificação, para confirmar se eu era maior de 18 anos. Muito bom, para quem não sabe, fiz 18 anos há 9 anos, o que me fez engordar o Ego, e ficar, ainda, mais impossível de aturar. No entanto, este foi o momento alto da noite, uma vez que não estavam mais de 30 pessoas, pelo menos 15 eram do staff, e das restante, 7 eram portuguesas.
Devo dizer que fiquei desiludidíssima, eu não tinha esperanças, que a minha prima fosse bem impressionada com Argel, mas não a podia deixar ficar, com aquela triste imagem, pelo que, na Quinta-feira passada, os suspeitos do costume voltaram a atacar e voltaram ao local do crime. Para surpresa das surpresas, a discoteca encheu, e tinha imensas mulheres, com falta de vestidos, e cintos a servir de saias, que fumavam, bebiam e dançavam, como se o mundo lá fora não existisse, como se nunca tivessem sido forçadas a tapar os cabelos, como se vivessem numa sociedade livre.
Foi bom de ver, mas o preconceito também se nota nestes espaços, e a prova é que toda esta gente, estava a divertir-se junto das mesas, e a pista ali, vazia, um verdadeira desaproveitamento de espaço útil, só porque meteram na cabeça, das” piquenas”, que dançar na pista é coisa de rameiras. Só me ocorre uma palavra “hipocrisia”.
No meio destas pequeninas aventuras ainda tivemos tempo, para vários passeios de carro, e a pé, e duas idas ao ténis, que correu muito bem, porque a prima jogava tanto quanto eu, ou seja, coisa nenhuma, ( deixo desde já, o meu sentido obrigada, aos homens que se sacrificaram, para jogarmos a pares), hihihihi.
Bom, mas se até ontem, tudo correu com relativa tranquilidade, a coisa ontem azedou, e Argel, mostrou a verdadeira natureza, à nossa turista, justamente, no dia da partida.
Ora, o voo da prima, era ontem às 20: 10, assim, saímos de casa às 14:30, para chegar duas horas antes ao aeroporto, como convém. Após uma hora de viagem, com muito pára e arranca, lá chegamos ao destino, em tempo mais do que útil. Dirigimos-nos ao local do check-in, entregamos os documentos a um dos senhores, que olhava fixamente para o monitor do computador, quando após uns instantes de espera, me diz com a maior cara de gozo: – “A senhora, não vai poder embarcar, porque o voo foi cancelado”. Assim, a seco, sem uma explicação ou pedido de desculpas. Eu olho para ambos os funcionários, e pergunto, a sorrir, se estavam a brincar comigo, pois não podia acreditar, que tinham cancelado o voo, sem pré-aviso, e sem um pedido de desculpas. O sujeito abana com a cabeça, para me informar que não estava a brinca e entrega-me o bilhete de avião do dia seguinte. Até levei uns segundos a digerir e informação, ou seria a falta de respeito? Não sei ao certo, mas a verdade é que digeri, o que quer que tivesse cá dento, e voltei à carga.
Questionei o Senhor simpatia, sobre a possibilidade que ela viajar, ainda ontem, mas noutra companhia, a resposta que obtive, foi um seco:” -impossível”.
Mas o que me preocupou, verdadeiramente, foi que visto dela caducava ontem, e se houvesse problemas na fronteira eu não podia passar com ela, e como  não fala francês, não conseguia  relatar à policia, o que havia acontecido.
Assim, exponho a situação ao colaborador do aeroporto, que com a maior lata de mundo, me responde:“-Amanhã, o voo é só às 14:00, só tem que estar no aeroporto ao 12:00, porque não vai pedir o prolongamento do visto?”
Fiquei possuída, irada, irritada e tudo mais que acabe em “ida” e “ada”. Passei-me e só lhe disse:” –Eu? O senhor não é puro, então a culpa é vossa, que anulam o voo sem informar ninguém, e eu é que vou gastar, tempo, paciência e dinheiro, para prorrogar o visto? É que nem pensar. Este é um problema que vocês têm de resolver e não nós.”
Moral da história, pegou no passaporte e desapareceu, quando voltou disse que já tinha falado com a policia e que não havia problema, mas claro que este desabafo, não nos chegou, pelo que o fiz prometer que ele estaria ali no dia seguinte, para passar a minha prima no controle de passaportes, ele assim prometeu, e nós voltamos para casa, com a sensação, que só disse fez a promessa para me fazer sair dali, mas enganei-me, e admito-o, hoje à hora marcada lá estava o sujeito, e como prometido, lá passou a prima.
E é isto, são estas peripécias que me tiram do sério, me fazem saltar o verniz, mas me entretêm nestes relatos dos vossos estrangeiros, em terras argelinas.
Para a próxima semana, temos dois dias de festa e matança de carneiros, logo que eu assista à carnificina venho cá contar, até lá, fujam da crise económica,  que nós por cá tentaremos fintar a crise de valores.