terça-feira, 30 de agosto de 2011

Aid al-Fitr

 

Boa Tarde minha gente,

Neste momento, muitos de vós devem estar curiosos, com o título desta minha nova mensagem, e por isso, permito-me desde já, saciar a vossa curiosidade.

Hoje celebra-se o primeiro dia do mês Shawwal (décimo mês do calendário islâmico). O Aid al-Fitr ou “festa da ruptura”, que marca o final do jejum, do Ramadão.

A declaração do final do Ramadão, foi comunicada ontem, por volta das 21h00, e estava dependente da observação do crescente lunar. O que fez com que ontem, à noite, estivéssemos todos à espera do comunicado, feito pelos representantes do Ministério dos assuntos religiosos. Sim, é estranho, mas aqui existe.

A verdade é que até ao comunicado, ninguém sabia se os feriados seriam Terça e Quarta, ou Quarta e Quinta, isto tudo porque estes senhores são descrentes nas novas tecnologias, e é sempre melhor ver a lua com os próprios olhos, na hora, in loco; que recorrer a telescópios, mesmo que isso boicote os planos de quem precisa de saber as datas dos feriados.

No que me toca, posso garantir-lhes, que o Ramadão, podia continuar ad eternum, pois o meu ganho com os feriados é ficar cinco dias sem a minha companheira, a Senhora da Limpeza. Isto, porque o meu príncipe é um bígamo, que está casado comigo e com a empresa, logo, vai trabalhar.

Eu sei que podia ficar triste, mas isso não vai acontecer, porque faltam 8 dias para ir para Portugal, por isso vale a pena o sacrifício.

Voltando ao Aid, do pouco que sei, esta é a hora de tirar a barriguinha de misérias, as mulheres fazem muitos bolos e outra comidinha boa (na opinião deles),e a as crianças recebem roupas novas e brinquedos. Faz lembrar um pouco o nosso Natal.

Ao que parece, o melhor local para celebrar o Aid é na Argélia, só assim se justifica a vinda da família do khadafi, por estas bandas, pelo menos, espero que este seja o único motivo da vinda.

Quanto a nós, temos conseguido manter-nos optimistas, e o Ramadão chegou ao fim, sem nos ter causado grande transtorno.

Na Sexta-feira, demos um jantar cá em casa, com Portugueses e uma Alemã, e foi muito giro. Claro que não foram só rosas, eu tinha de fazer das minhas, por isso, achei que a sobremesa deveria ser Petit Gâteau. Como é do conhecimento geral, estes bolos devem ser consistentes por fora, mas o chocolate interior deve estar fondant. No caso, estavam altamente fondant, é caso para dizer, fundiram-se completamente. Mas sem stress, eu penso em tudo, e como sabia que havia possibilidade da coisa não correr, pelo melhor, fiz uma sobremesa alternativa, que estoicamente salvou a causa.

Assim, de barriguinha cheia, houve cantoria, dança e boa disposição, noite dentro.

É isto que nos vai compensando, e nos faz abstrair do lugar onde vivemos…

P.S- No Domingo, apedrejaram uma miúda numa das ruas mais movimentadas de Argel, por esta estar a passear em calções. Como podem ver animação é coisa que não nos falta…

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Hoje fiz um amigo no Supermercado…

 

Um grande Olá para todos!

Nestes últimos tempos tenho andado desaparecida, mas tenho um bom motivo, ou melhor, uma adição, o Sim 2.Trata-se um jogo de computador, algo patético, mas muito viciante.

Mas se querem saber, também não tenho grandes novidades para vos contar, à excepção, da nova amizade que acabei de fazer.

Como já estão fartos de saber, continuamos em Ramadão, e se esta época tem algumas coisas boas, há coisas que me mexem com os nervos. Coisas simples, como fazer compras, nesta época, não é tarefa fácil. Ontem, às 18:30, hora a que tentei abastecer-me, já estava tudo fechado, por isso aproveitamos a hora de almoço, para rechear o frigorifico.

Fomos então, ao Uno, um supermercado do género do nosso Modelo, mas com aspecto de Lidl.

Alguns dos artigos, da nossa lista, eram uns pratos que estávamos a precisar, mas nem só os encontrei, como eram iguais ao serviço que temos em casa, até aqui, ouro sobre azul.

Chegados à caixa para pagar, o jovem caixeiro olha para mim, com cara de urso e diz:

Jovem com cara de urso: “- Os pratos não têm código”. 

Eu:”- (Sorriso), pois não têm… "

- Deves estar à espera que eu vá buscar os códigos por ti, ( foi o que pensei, mas não disse).

(Depois de olhar uns momentos para mim, decide ir procurar os ditos códigos.)

(Volta ).

Jovem com cara de urso: “-Os Pratos são de um serviço.”

Eu: “-Não, os pratos estavam soltos, não faziam parte do serviço, até porque nós queríamos pratos de sopa e não havia.”

Jovem com cara de urso: “–  Estes pratos são de um serviço ( a cuspir as palavras).”

Eu: ”- Ok, então quero o serviço”.

Jovem com cara de urso: “- Então tem de pedir a um dos meus colegas”.

Eu: “- Eu trouxe os pratos que diz não me poder vender, agora cabe-lhe a si, ir buscar o serviço que quero comprar, por isso agradeço-lhe imenso, o favor de me ir buscar o serviço, que quero comprar.”

(O Jovem com cara de urso, a espumar, dirige-se ao local dos pratos).

(volta)

Jovem com cara de urso: “ -Afinal, não temos o serviço.”

Eu: ” –Então, quero levar os pratos”.

Jovem com cara de urso: “- Não estão para venda, não lhos posso vender”.

Eu: “- Estavam no expositor, logo, estão para venda e por isso vou leva-los”.

Jovem com cara de urso: “- Não pode ser.”

Eu: “ -Chame o seu superior, se faz favor, ou não saio daqui”.

(Jovem com cara de urso chama o superior, mas desta vez já com os olhos raiados de raiva).

( Drina a pensar: “ Que coisa feia, meu jovem, tanta raiva em pleno Ramadão, (risos interiores)).

( Chega o superior, explico toda a situação, sublinho que não saio dali sem aqueles pratos).

( Superior anda para a frente e para trás. Volvidos alguns minutos, volta com os códigos, que entrega ao Jovem com cara de urso, que por sua vez, me vende os pratos, sem sequer me dirigir o olhar).

( Drina, diz obrigada, a jovem com cara de urso, traz os pratos para casa, e viveram felizes para sempre…)

Moral da história, com meninos preguiçosos, armados em parvos e com cara de urso, se não levares a bicicleta, levas os pratos…

The End

P.S- Hoje é fim-de-semana, por isso haja alegria e contemos pacientemente os parcos dias, porém lentos, que nos faltam, para voltar a pisar solo luso…

Até breve…

sábado, 20 de agosto de 2011

Noite longas que passam sem darmos conta…


Olá a todos,
Cá estou eu, de novo, para vos dar conta de como correm os nossos dias, a meio do Ramadão.
Como já tive a oportunidade de vos explicar, esta época não é muito produtiva, em nenhum sentido, pelo que os nossos fins-de-semana, precisam de grande dose de criatividade, na companhia dos poucos sobreviventes que permanecem, nesta terra, no mês de Agosto. No entanto, e por mais que isso espante, ( pois até eu estou incrédula), temos tido uns dias bem animados e preenchidos…
Ontem, depois de um dia fantástico de piscina, fomos convidados para um jantar Luso, com iguarias da nossa terra, onde não faltaram ingredientes tão nossos, como o bacalhau, bôla de carnes, alheiras, vinho do Porto e ginjinha…
Se o jantar, só por si, já foi simpático, o que se seguiu foi simplesmente, delicioso, pois fizemos uma partidinha de Buzz, que podia ter tido um resultado mais justo, não fosse a anfitriã ser, também, proprietária do jogo, que apesar de estar, aparentemente fechado, já vinha, de origem, com os resultados do pódio atribuídos.  No mínimo curioso, não acham?
Mas piadas privadas à parte, fui uma noite muito divertida, e naqueles momentos pareceu que só existíamos nós ali, como se Portugal tivesse sido trazido para aquela sala, onde 20 quadrados era obviamente, uma menina a jogar vídeo jogo, mas ela até podia estar a fazer meia, que o importante  e alcançado, foi uma noite de rir até doer a barriga, para mais tarde recordar, nas páginas desta estadia argelina.
Hoje vai ser mais um dia de não fazer nenhum, a não ser dedicar-me ao meu novo jogo, O meu querido Sims…
Até já

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Iguaria Argelina…

 

Olá, olá,

Cá estou eu, de novo, para vos dar conta das novidades do mediterrâneo e informar-vos que estou perfeitamente recomposta, do desastre culinário, que tornei público no último post.

Para os mais atentos, asseguro-vos que apesar da ausência do pudim de ovos, que como devem calcular, faria toda a diferença,( caso tivesse vingado), a anfitriã conseguiu proporcionar aos presentes,( que por sua vez, eram mais do no meu casamento), um fantástico jantar, com comidinha boa e em quantidade suficiente para alimentar toda a tropa argelina. Mas sim, o jantar correu muito bem.  Diverti-me imenso, para além de ter sido altamente pedagógico, pois como havia convidados de imensas nacionalidades, falei todas as línguas que conhecia e inventei as que não sabia, ( espero que ninguém tenha gravado os meus diálogos linguísticos).

No dia  a seguir ao jantar, ontem portanto, para digerir o que a gula me obrigou a ingerir, fui até à praia, com as minhas personal trainers preferidas, que desta vez, foram brandas comigo e passamos bastante tempo, na piscina adequada, aos nossos tamanhos, a piscina dos pequeninos.

De uma vez que as minhas amiguinhas, também elas vão partir para férias, voltei ao meu habitat “natural”, a cozinha. Agradeço que parem de rir, imediatamente! Para os descrentes, fiquem a saber que me saí muito bem, na confecção dos bourreks argelinos, e vou deixar aqui a prova fotográfica.

Hoje, o meu príncipe, volta a casa, depois de uma longa viagem, de carro, a uma cidade que fica a mais de 600 Km de Argel.

Só para concluir. Alguns amigos perguntam-me se me arrependi de ter vindo, e a resposta que lhes dou é : “Nem por um segundo”,  é esta mesma resposta que deixo a quem nunca teve coragem de fazer a pergunta, e deixem-me apenas acrescentar, que para vir para aqui, não desisti dos meus sonhos, apenas, os reinventei…

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domingo, 14 de agosto de 2011

Desastre Culinário!

 

Boa tarde a todos,

Meus amigos, vou começar por citar um grande pensador, de nome Viriato, (que só por acaso é meu pai): “há dias de manhã, que um homem à tarde, não deve sair à noite”, que é como quem diz, mais valia ter ficado a dormir…

A trama que hoje vos reservo reza o seguinte: Era uma vez, uma jovem portuguesa, que fora levada pelo coração para Argélia, aí descobriu vários dotes, ou não, e um deles, foi a paixão forçada pela arte de cozinhar. Ora um belo dia, tendo sido amavelmente convidada para um jantar, decidiu que faria um pudim caseiro, para sobremesa, e é neste preciso instante que os problemas começam:

Problema Nº1: Não tinha a preciosa ajuda da sua Tia Maria.

Problema Nº2: Não Tinha Panela de pressão.

Problema Nº 3: Não tinha forma adequada à confecção da referida iguaria.

Problema Nº 4: Não tinha tampa para pôr na panela.

Apesar de todos estes pequenos pormenores, esta corajosa decidiu, não se deixar vencer pelas adversidades e fazer o pudim. Assim, pediu à Sr.ª da limpeza para lhe ir comprar uma forma, que esta lhe trouxe, com todo o carinho, mas sem tampa. qualquer pessoa normal teria parado por aqui, mas a jovem persistiu sem vacilar.

Depois de ter empregue, meia-hora a fazer o caramelo, que teimava em não ficar no ponto, lá conseguiu o feito, à segunda volta. Posto isto, colocou todos os ingredientes, como a tia lhe havia ensinado, e toca a pôr a forma, numa panela em banho maria; como não tinha testo, colocou um wook, para abafar o repasto.

Até aqui, tudo controlado, não fosse a panela ter demasiada água, que ao ferver iria entrar para dentro da apetitosa sobremesa, como estamos a falar de alguém muito perspicaz, logo percebeu que não podia deixar que a água lhe destruísse o sonho, pelo que sem mais demoras, retira parte da água da panela e deixa que a receita prossiga o seu curso de cozedura.

Depois de tanta luta, instala-se devidamente no sofá, para um merecido descanso, quando repentinamente, sente o odor de açúcar e metal queimado. Dirige-se rapidamente ao fogão, e sem qualquer preparação psicológica, depara-se com os seguintes salvados:

- Uma Panela queimada;

- Uma forma, novinha, com um buraco, na base;

- E um quase pudim, que infelizmente, morreu à nascença.

Com isto aprendi uma coisa, nunca mais faço pudim na Argélia, a menos que a Tia Maria, me venha cá dar uma mãozinha…

 

Aqui está a prova do crime:

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sábado, 13 de agosto de 2011

Circo e outras Palhaçadas…

 

Hello everybody,

Enquanto o meu mais que tudo, está para ali a fazer um joguinho de PES, contra alguém que deve estar do outro lado do mundo, eu aproveito, para fazer coisas úteis, como seja, manter-vos informados…

A grande novidade que vos reservei, para hoje, é o relato da nossa ida ao circo, na passada Quarta-Feira. Não sou perdida por circo, e se querem saber, apesar de ter sido muito divertido, fartei-me de sofrer, ao ver os trapezistas a andar em cordas, sem nada para os amparar, mas valeu a pena e um grande bem haja, a quem nos fez o convite.

No circo, estar na primeira fila, não é sinónimo, de posição geográfica privilegiada, senão vejam, no primeiro número, um bebé boneco fez-nos xixi para cima; estivemos a pouco mais de um metro de tigres rebeldes; cavalos anões desnorteados; crocodilos que a mim só me faziam pensar em malas e sapatos; e de uma fonte que teve a amabilidade de nos encharcar todinhos. Mas meus caros, a cereja no topo do bolo, foi sem dúvida, quando o palhaço pobre,  veio recrutar o Sr. meu marido, para lhe servir de assessor. Foi simplesmente de gritos, imaginem, aqueles que o conhecem, no meio da arena, a tocar bombo, com um guizos na cabeça, que deveria abanar ao som do tambor, uma verdadeira delicia. No entanto, justiça lhe seja feita, este homem é um verdadeiro animal de palco…

Atenção que a animação desta semana, não se ficou por aqui,  pois, ontem fomos à praia  e graças à presença incontornável, de duas expatriadinhas, que têm tanto de adoráveis como de irrequietas, hoje estou que nem posso, não há músculo que não grite, e foram-me apresentados, uns quantos, que eu desconhecia a sua existência, isto é o que dá passar os meus dias, a criar raízes no sofá, depois basta um treino ao ritmo áureo da infância, para me deixar K.O, em poucos rounds.

Pelo exposto, hoje, apesar de ser o último dia do fim-de-semana, vou ficar, mais uma vez,  pelo sofá a tentar silenciar os gemidos musculares…

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Respeito

 

Boa tarde para todos,

Não posso deixar de expressar publicamente, o meu profundo pesar sobre a situação que se está a viver, em Londres. O que estão, aqueles marginais a fazer à cidade dos meus sonhos? Sempre disse que adoraria morar na capital inglesa, é uma espécie de fetiche recalcado, tudo me atrai, pessoas altas, magras, peles brancas, cabelos claros, sardas; sotaque a transbordar glamour, pontualidade e cavalheirismo, verdadeiras raridades, que ao que parece, entraram oficialmente, em  vias de extinção.

Não consigo perceber o que se passa com esta malta pirómana, marginal e mal formada, mas de uma coisa sei, estou farta da desresponsabilização: dos direitos, liberdades e garantia lidos e exercidos de forma unilateral, sem atentar à contra-partida que lhes está inerente; não podem existir direitos sem deveres; a nossa liberdade termina quando começa a dos outros, alguém me faz o obséquio de lhes explicar isto.

Ao Sr. David Cameron só gostava de dizer, que basta de alimentar a tese dos costumes brandos, estes “meninos bandidos” precisam de levar umas palmadas bem assentes, para ver se atinam. Se não são capazes, deviam pedir uns conselhos aqui aos argelinos, que eles são, do melhor que já vi, a controlar manifestações.

Congelem as teses dos psicólogos, sociólogos, políticos, os eventuais traumas irreversíveis na personalidade dos “piquenos” vândalos; as tretas justificativas, que os peritos, em comportamentos sociais e humanos,  apelidam de “garrote social”, que comprime os pobre e inocentes adolescentes, de Londres. Estou cansada de ver imagens e nunca vi crianças nos motins, apenas vejo gente que já tem idade e corpo  bastante para ter juízo e educação. O argumento da falta de dinheiro não colhe, ser pobre não é, nem pode ser sinónimo de ser arruaceiro e criminoso, mas na minha humilde opinião, é disso que se trata, de um bando de delinquentes, com plena consciência, do que estão a fazer e que não vão ser responsabilizados pelos crimes que estão a cometer.Pobres miseráveis de espírito!

Sim desculpem, eu sei que tenho andado um bocado irritadiça, mas estas coisas mexem-me com os nervos, assim como aquilo que vos vou passar a contar:

Desde que cheguei a esta casa, há mais de 5 meses, que todos os dias acordo com as obras de meu vizinho de cima, até aqui tudo bem, é irritante, mas tem de ser, não conheço obras silenciosas, mas o que me deixa possuída, e que durante estes meses as varandas cá de casa, têm funcionado como caixote de lixo, desde beatas, garrafas de coca-cola, passando por Cd do Michel Jackson, e restos de betão e tijolos, vale tudo, menos arrancar olhos, que é aquilo que me apetece, neste momento…

Para colorir o cenário, tivemos sem água durante quase dois dias, mas como temos sempre de ver o lado bom da vida, hoje ofereceram-nos bilhetes para o circo, e apesar de eu não gostar de palhaços, circo por circo, mais vale assistir a um, que seja feito por profissionais, e esperar, com paciência de bom cristão, que melhores dias virão…

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Meu querido mês de Agosto,

Meus queridos,
Ninguém me disse que o mês de Agosto, na Argélia, ia ser fácil, pois agora estou em perfeitas condições de entender o porquê…
Hoje estou com a Azia, isto porque ontem ficamos sem água em casa, mas como temos o reservatório do cilindro, estava tudo sobre controlo. O problema foi que agora, a reserva acabou, o que simplesmente me desalinhou os chakras, pois neste momento, tenho a loiça a atrair bicharada; muito roupa para pôr a lavar; a bexiga a rebentar pelas costuras; e estou literalmente desesperada por um banho, tudo bons motivos para sorrir…
Desabafo feito, sinto-me pronta para vos contar as “aventuras pelo Ramadão”. Desde logo, quero emendar um erro grave, do meu último post, afinal o sexo não é completamente proibido, durante o Ramadão, tal como a comida e a água, também o sexo é permitido quando o sol se põe. Tenho a dizer-vos que acho muito mal, pois assim deitaram por terra, a minha tese,  de que em Maio, não nasceriam crianças, enfim… Castradores de sonhos.
Passando ao que importa, já confirmei algumas teses sobre esta época festiva, nomeadamente:
- As noites, são mesmo a loucura, se entre as 7:30 e as 21:00, parece que acordamos dentro da série, walking dead, depois das 21:00 a cidade ganha vida, toda a gente sai à rua, homens, mulheres e crianças vale tudo.
No outro dia, fui levada pelas ideias arrojadas da Lussy, para as festas do Ramadão. Confesso, que no inicio, estava um pouco apreensiva, pois só via as ruas cheias de gente; pessoal com cadeiras na mão para se sentarem e confraternizarem confortavelmente, na rua,  camisas brancas e lenços por todo o lado, conclusão: uma festa, com contornos muito pessoais destas gentes.
Mas, depois, eis que me levaram para o interior de uma grande tenda com colchões e almofadas no chão; gente nova; muito chá e uma banda que misturava a música típica, com sons electrónicos, camisas de dormir, castanholas argelinas e até bandol electrificado,  ( não percebi se tocavam sempre a mesma música, ou se era uma diferente a cada paragem, mas isso são pormenores), o que importa é que superou as minhas expectativas e pude comprovar que as danças que me haviam falado, não são mito, são uma divertida realidade. Passo a explicar, houve um momento, em que deu uma música, que eu suponho, tem poderes especiais, pois só vi uma avalanche de homens a saltar para a pista, de braços abertos, (fazia lembrar o voo do Pauleta, quando marcava golos), com um manear de anca de fazer inveja às rainhas do sambódromo brasileiro,  acompanhada de olhares e movimentos bem sensuais, uma verdadeira delicia, que com grande pena minha, nunca conseguirei ilustrar, por palavras.
Esta foi emocionante, não foi? Quanto ao resto, nada de grandes novidades, confirmo que andam todos sonâmbulos pela ruas, isto porque andam na festa até às tantas, estão com fome e sede ( pelo menos em teoria), e os que não estão fracos, fazem-se passar por fracos, por isso nunca vou conhecer a idoneidade da fraqueza.
Ontem, dei com a senhora da limpeza deitada, no chão do quarto, para apanhar a frescura dos mosaicos, ela não costuma ser preguiçosa, o que me deixa um pouco confusa.
Ainda falta muito tempo, até ao fim do Ramadão, por isso hoje fico por aqui, mas fiquem atentos, porque eu vou, mas volto.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

De volta, para assistir ao Ramadão.


Boas e quentes Tardes, pelo menos por estes lados,
Como muitos saberão, estive ausente de Argel, durante uma curtíssima e revigorante semana e por esse motivo, o blog também teve direito a um período de descanso.
Pois é, tudo o que é bom acaba depressa e esta semana passou, de modo particularmente apressado. Foi rápida mas soube muito bem. O curioso é que quando vivíamos em Portugal, nunca percebemos o quão bom é a liberdade de aproveitar os pequenos nadas, que tanta falta nos fazem.
Posto este desabafo, e melodramas à parte, cá estou eu prontinha para ficar no banco, neste período, alegadamente tão caro aos Muçulmanos, o Ramadão.
Certamente que todos vocês já ouviram falar desta espécie de Quaresma muçulmana, mas eu vou contar-vos, em traços breves, o pouco do que julgo saber sobre a temática.
Assim, o mês de Ramadão é o nono mês do calendário islâmico, em que durante 29 ou 30 dias, dependendo da lua, todos os fieis, salvo excepções determinadas, como os enfermos, crianças e grávidas, devem praticar o jejum ritual. Entenda-se jejum no sentido mais lato possível da palavra, uma vez que os crentes devem abster-se de comer, beber e fumar desde o nascer ao pôr-do-sol; as relações sexuais também são proibidas, durante todo o mês de Ramadão, assim sendo, pelas minhas contas, este ano não vão nascer crianças em Maio, adorava conseguir confirmar esta informação.
Acredito que muitos de voz, estão tão chocados quanto eu, quando descobri a existência da prática, mesmo agora, só de pensar que esta malta trabalha, ou pelo menos, vai aos empregos, sem comer e sem beber, com temperaturas que oscilam entre os 30ºC e os 40ºC, até me causa angústias, mas como eu gosto de me proteger da dor, vive em mim, uma pequena esperança, que toda a gente come e bebe, no aconchego do lar e recato dos cortinados.
Quanto os efeitos nefastos do jejum, só vos posso avançar o pouco que vejo e me contam: Desde logo, a senhora de limpeza, que anda mole, pelos cantos e diz que lhe doí a cabeça, ( a minha também tem doído mas podem estar certos, que não é do jejum); Há quem diga que durante a tarde, andam todos stressados e mortos de fome e sede, o que é motivo mais que suficiente para haver acidentes e confusões, no entanto, ainda não tive essa sensação, da minha janela, só vejo gente de cara fechada que se arrasta de forma lenta e até mole.
O meu marido, ontem chegou a casa, depois do pôr-do-sol, e portanto, hora de janta, e disse que a cidade estava deserta, as filas intermináveis, foram substituídas, pelo roncar de 3 carros que se cruzaram no seu caminho, devia ser sempre assim.
Pelo que me foi dado a saber, o jantar aqui é um verdadeiro banquete, durante todo o mês, as mulheres passam a tarde inteira a preparar o repasto, repleto de comidas, com o nível calórico das nossas Francesinhas, e quando se apanham à mesa deve ser comer e beber até rebolar. Que medo, imaginam o efeito que este ritual deve ter no organismo? Enfim…
Por último, mas um pouco menos deprimente, é o pós janta, toda a gente saí, à rua, e pasmem-se, até as mulheres. É verdade, nunca tinha visto tal fenómeno, mas na Segunda-feira às 23h30 estavam imensas mulheres, sem se fazerem acompanhar pelos maridos, aí pelas ruas, uma verdadeira loucura, que eu julgava ser mito.
A título de informação, mesmo que desnecessária, aqui em casa comemos, bebemos e fazemos tudo o que temos direito, a única coisa irritante é que os restaurantes estão quase todos fechados, o que trava um pouco a confraternização, pois como bons tugas, o nosso mundo gira em volta da mesa.
Já vos dei seca que chegue, obrigada a todos os sobrevivente que me leram até ao fim e até breve.