segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Testamento.


Muito boa tarde a todos,
Cá estou eu, mais uma vez, para vos relatar estes meus últimos dias, que foram, certamente, os menos monótonos, da minha estadia por estas bandas.
Nestes últimos onze tive a companhia da uma prima, que num rasgo de loucura, decidiu vir fazer o turismo,possível, na Argélia.
A verdade é que a coisa não correu muito mal, pensei que iria ser pior.  Viver nesta cidade, sem carro e sem conduzir, não é tarefa, nada fácil. Mas deu para lhe mostrar alguns dos locais, de maior interesse de Argel, assim como, os hábitos e rotinas desta vida mediterrânica/portuguesa.
A Argélia tem várias belezas para visitar, desde praias, ruinas, vales, vilas muito típicas, e desertos, há uma grande diversidade de espaços e gentes, espalhadas pela vasta área do pais, no entanto, Argel não é, propriamente, a cidade mais rica e dinâmica do mundo, mas nós demos a volta à situação e conseguimos ocupar, com algumas peripécias, os nossos longos dias.
Demos várias voltas por Argel, fomos ao Monumento dos Mártires, às praias de Palm Beach, à Catedral de Nôtre Damme D’afrique; passamos na fantástica marginal e baia argelina, que bastava uma pintura, para ser um lugar belíssima. Fomos ainda, ao centro comercial, às ruas das compras, onde conseguimos um desconto de 600 dinares nuns ténis all star, que custavam 1500 dinares. Também na loja de souvenirs, tivemos direito a ofertas, deram-nos dois porta-chaves, típicos, aqui da terrinha. Vimos também o mercado de Sexta-feira de manhã, com as lojas cheias de roupas e de gentes, e esta foi a experiência mais argelina, dos dez dias de estadia. Visitamos também, ao jardim onde foi gravado o primeiro Tarzan, lugar que aprecio, especialmente, ainda por cima, porque a visita, foi de borla, graças à simpatia dos senhores porteiros, que decidiram fazer uma gentileza, aqui às meninas.
Na Sábado passado, tentamos ir às ruínas de Tipaza, que muita gente nos tem elogiado, mas que ainda não tive oportunidade de ver. Infelizmente chovia imenso e não conseguimos sair do carro, de todo modo, fiquei bem impressionada com aquela banda, e logo que tenha uma oportunidade, vou lá e trago fotos, para vos mostrar.
Durante as noites, fomos, aos restaurantes mais frequentados, pelos estrangeiros, e fomos duas vezes à discoteca Pachá, que ganha o galardão da experiência do mês.
Estávamos nós quatro, a tentar entrar na discoteca, quando um dos seguranças, me pede a identificação, para confirmar se eu era maior de 18 anos. Muito bom, para quem não sabe, fiz 18 anos há 9 anos, o que me fez engordar o Ego, e ficar, ainda, mais impossível de aturar. No entanto, este foi o momento alto da noite, uma vez que não estavam mais de 30 pessoas, pelo menos 15 eram do staff, e das restante, 7 eram portuguesas.
Devo dizer que fiquei desiludidíssima, eu não tinha esperanças, que a minha prima fosse bem impressionada com Argel, mas não a podia deixar ficar, com aquela triste imagem, pelo que, na Quinta-feira passada, os suspeitos do costume voltaram a atacar e voltaram ao local do crime. Para surpresa das surpresas, a discoteca encheu, e tinha imensas mulheres, com falta de vestidos, e cintos a servir de saias, que fumavam, bebiam e dançavam, como se o mundo lá fora não existisse, como se nunca tivessem sido forçadas a tapar os cabelos, como se vivessem numa sociedade livre.
Foi bom de ver, mas o preconceito também se nota nestes espaços, e a prova é que toda esta gente, estava a divertir-se junto das mesas, e a pista ali, vazia, um verdadeira desaproveitamento de espaço útil, só porque meteram na cabeça, das” piquenas”, que dançar na pista é coisa de rameiras. Só me ocorre uma palavra “hipocrisia”.
No meio destas pequeninas aventuras ainda tivemos tempo, para vários passeios de carro, e a pé, e duas idas ao ténis, que correu muito bem, porque a prima jogava tanto quanto eu, ou seja, coisa nenhuma, ( deixo desde já, o meu sentido obrigada, aos homens que se sacrificaram, para jogarmos a pares), hihihihi.
Bom, mas se até ontem, tudo correu com relativa tranquilidade, a coisa ontem azedou, e Argel, mostrou a verdadeira natureza, à nossa turista, justamente, no dia da partida.
Ora, o voo da prima, era ontem às 20: 10, assim, saímos de casa às 14:30, para chegar duas horas antes ao aeroporto, como convém. Após uma hora de viagem, com muito pára e arranca, lá chegamos ao destino, em tempo mais do que útil. Dirigimos-nos ao local do check-in, entregamos os documentos a um dos senhores, que olhava fixamente para o monitor do computador, quando após uns instantes de espera, me diz com a maior cara de gozo: – “A senhora, não vai poder embarcar, porque o voo foi cancelado”. Assim, a seco, sem uma explicação ou pedido de desculpas. Eu olho para ambos os funcionários, e pergunto, a sorrir, se estavam a brincar comigo, pois não podia acreditar, que tinham cancelado o voo, sem pré-aviso, e sem um pedido de desculpas. O sujeito abana com a cabeça, para me informar que não estava a brinca e entrega-me o bilhete de avião do dia seguinte. Até levei uns segundos a digerir e informação, ou seria a falta de respeito? Não sei ao certo, mas a verdade é que digeri, o que quer que tivesse cá dento, e voltei à carga.
Questionei o Senhor simpatia, sobre a possibilidade que ela viajar, ainda ontem, mas noutra companhia, a resposta que obtive, foi um seco:” -impossível”.
Mas o que me preocupou, verdadeiramente, foi que visto dela caducava ontem, e se houvesse problemas na fronteira eu não podia passar com ela, e como  não fala francês, não conseguia  relatar à policia, o que havia acontecido.
Assim, exponho a situação ao colaborador do aeroporto, que com a maior lata de mundo, me responde:“-Amanhã, o voo é só às 14:00, só tem que estar no aeroporto ao 12:00, porque não vai pedir o prolongamento do visto?”
Fiquei possuída, irada, irritada e tudo mais que acabe em “ida” e “ada”. Passei-me e só lhe disse:” –Eu? O senhor não é puro, então a culpa é vossa, que anulam o voo sem informar ninguém, e eu é que vou gastar, tempo, paciência e dinheiro, para prorrogar o visto? É que nem pensar. Este é um problema que vocês têm de resolver e não nós.”
Moral da história, pegou no passaporte e desapareceu, quando voltou disse que já tinha falado com a policia e que não havia problema, mas claro que este desabafo, não nos chegou, pelo que o fiz prometer que ele estaria ali no dia seguinte, para passar a minha prima no controle de passaportes, ele assim prometeu, e nós voltamos para casa, com a sensação, que só disse fez a promessa para me fazer sair dali, mas enganei-me, e admito-o, hoje à hora marcada lá estava o sujeito, e como prometido, lá passou a prima.
E é isto, são estas peripécias que me tiram do sério, me fazem saltar o verniz, mas me entretêm nestes relatos dos vossos estrangeiros, em terras argelinas.
Para a próxima semana, temos dois dias de festa e matança de carneiros, logo que eu assista à carnificina venho cá contar, até lá, fujam da crise económica,  que nós por cá tentaremos fintar a crise de valores.

3 comentários:

  1. Fico à espera de mais notícias. É que o meu mais que tudo está aí a trabalhar e com o seu "Argel aqui me tens" sinto-me menos distante dele. Ui, foi um desabafo. Obrigada.E parabéns pela sua coragem- Muita força. Um beijo da santa terrinha

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  2. Olá Anónima,

    Eu é que agradeço, por vir ler-me, e o "Argel aqui me tens", além de me divertir ao escrevê-lo, tem como principal função, dar conta aos nossos de que está tudo bem. Fique tranquila que isto não tem grande animação, mas a gente vai sobrevivendo. E já sabe quando vier cá ver as argélias, diga alguma coisa, aqui no Blog.

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  3. "Fique tranquila que isto não tem grande animação"! Adorei o comentário. Obrigada. Adivinhou a intranquilidade de uma esposa distante de um cônjuge que tá em Argel ...(ai que este meu comment parece uma trágico comédia).
    Merci bien et a bientôt (olha pra ela a armar se a falar franciu)
    Agora a sério: obrigada por existir (especialmente aí). Bj no coeur, da santa terrinha.

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